5ª Conferência Indígena da Ayahuasca reúne povos tradicionais no Acre

Na última edição, realizada em 2022, 35 povos de várias regiões do Brasil e da América Latina, como os Huni Kuĩ, Yawanawá, Shipibo-Konibo, Yanomami e Guarani Mbyá, participaram do evento.

A 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca começou nesta sexta-feira (24), na Aldeia Sagrada Yawanawá, localizada na Terra Indígena Rio Gregório, no município de Tarauacá, Acre. O evento, organizado pelo Instituto Nixiwaka, pela Cooperativa Extrativista Yawanawá e pelo Instituto Yorenka Tasorentsi, acontece em um local remoto, acessível apenas após três horas de estrada e mais dez horas de barco, partindo de Cruzeiro do Sul.

O encontro reúne dezenas de etnias indígenas, algumas usuárias tradicionais da ayahuasca e outras que possuem rituais com diferentes medicinas, como o tabaco e o rapé. A conferência tem como objetivo principal preservar os conhecimentos ancestrais ligados à bebida, também conhecida por nomes como kamarãpi, uni e yage.

Resgate das raízes indígenas da ayahuasca

A ayahuasca, tradicionalmente criada pelos povos indígenas, foi popularizada em contextos urbanos por religiões como o Santo Daime, a União do Vegetal (UDV) e a Barquinha. Contudo, lideranças indígenas vêm se organizando desde 2015 para reivindicar o protagonismo na preservação de seus conhecimentos, fortalecendo a narrativa de sua origem ancestral.

Na última edição, realizada em 2022, 35 povos de várias regiões do Brasil e da América Latina, como os Huni Kuĩ, Yawanawá, Shipibo-Konibo, Yanomami e Guarani Mbyá, participaram do evento. Os debates abordaram temas como a crescente apropriação cultural da ayahuasca e o impacto da ciência e das religiões urbanas em sua popularização global.

Discussões da 5ª edição

Nesta edição, temas centrais incluem:

  • Apropriação de conhecimentos tradicionais: críticas à exploração comercial e cultural da ayahuasca por pessoas externas às comunidades indígenas.
  • Patentes e direitos sobre a bebida: defesa contra tentativas de registrar patentes que envolvam o uso da ayahuasca e seus componentes.
  • Legalidade do uso fora de territórios indígenas: análise das implicações jurídicas do transporte e uso da bebida em outros contextos.
  • Protocolos de parcerias com pesquisadores: estabelecimento de critérios que respeitem as tradições e o consentimento das comunidades.
  • Protagonismo feminino: valorização do papel das mulheres como lideranças espirituais nas comunidades indígenas.

Outro ponto em destaque é a proposta de criação de um Conselho de Líderes Espirituais Indígenas, que busca fortalecer a representatividade e proteger os direitos das comunidades em relação à ayahuasca e suas práticas tradicionais.

Histórico e desafios

A insatisfação com a narrativa dominante em torno da ayahuasca surgiu com força em 2016, durante a 2ª Conferência Mundial da Ayahuasca, em Rio Branco, quando líderes indígenas criticaram a pouca representatividade nos debates. Desde então, as conferências indígenas têm se consolidado como um espaço exclusivo para discutir políticas, cultura e espiritualidade relacionadas à bebida.

Com a popularidade internacional da ayahuasca crescendo, especialmente por estudos científicos que apontam seu potencial no tratamento de problemas de saúde mental, os povos indígenas reafirmam a necessidade de preservar a essência cultural e espiritual da bebida, garantindo que seus saberes ancestrais sejam respeitados.

A 5ª Conferência segue até o domingo (26), fortalecendo o papel das lideranças indígenas na proteção de seus direitos e na manutenção de suas tradições.

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