Indígenas se reúnem no Acre para debater preservação e futuro da ayahuasca

Aldeia Sagrada Yawanawá, localizada na Terra Indígena Rio Gregório, no município de Tarauacá, no Acre.

A 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca iniciou nesta sexta-feira, 24, com um evento na Aldeia Sagrada Yawanawá, localizada na Terra Indígena Rio Gregório, no município de Tarauacá, no Acre.

O evento ocorre em um local remoto, acessível apenas após três horas de estrada e mais dez de barco, partindo de Cruzeiro do Sul, cidade do noroeste do Acre. Realizada pelo Instituto Nixiwaka, pela Cooperativa Extrativista Yawanawá e pelo Instituto Yorenka Tasorentsi, a conferência reúne dezenas de etnias indígenas, algumas usuárias tradicionais da ayahuasca e outras que, embora não a utilizem, possuem rituais com outras “medicinas”, como o tabaco e o rapé.

A ayahuasca, tradicionalmente criada por povos indígenas, é conhecida atualmente como parte dos rituais religiosos urbanos do Santo Daime, União do Vegetal (UDV) e Barquinha. Buscando reforçar sua origem ancestral, lideranças indígenas vêm se organizando desde 2015, culminando agora na Na edição anterior, realizada em 2022, participaram 35 povos de várias regiões do Brasil e da América Latina, incluindo Huni Kuĩ, Yawanawá, Shipibo-Konibo, Yanomami e Guarani Mbyá. Esses encontros têm como objetivo preservar os conhecimentos tradicionais ligados à bebida psicoativa, feita a partir da mistura de folhas de chacrona e do cipó-mariri, conhecida por diferentes nomes em suas comunidades, como kamarãpi, uni e yage.

Um dos pontos de debate é a crescente apropriação cultural e o protagonismo de religiões urbanas e da ciência na popularização da ayahuasca. A bebida, que ganhou fama internacional após a criação do Santo Daime pelo seringueiro Raimundo Irineu Serra no início do século 20, foi difundida globalmente, atraindo o interesse de pesquisadores por seus potenciais benefícios à saúde mental, como no tratamento da depressão.

A insatisfação dos povos indígenas com essa narrativa dominante veio à tona em 2016, durante a 2ª Conferência Mundial da Ayahuasca, em Rio Branco. Na época, líderes indígenas criticaram o espaço reduzido para suas vozes e idealizaram um evento exclusivo. Assim nasceram as conferências indígenas, a primeira em 2017, na Terra Indígena Poyanawa. Desde então, as discussões têm se concentrado em garantir que os povos originários tenham protagonismo em decisões políticas e jurídicas que envolvam a ayahuasca.

Nesta quinta edição, temas como apropriação de conhecimentos tradicionais, patentes, transporte da bebida, legalidade do uso fora dos territórios indígenas, protocolos de parcerias com pesquisadores e o papel das mulheres como lideranças espirituais estão em pauta. Também se discute a criação de um Conselho de Líderes Espirituais Indígenas para fortalecer a representatividade e a proteção de seus direitos.

Com informações da Folha de SP, Ac24horas 

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