Foto: Instituto Ainbu Daya
No município do Jordão, interior do Acre,44 mestras artesãs, guardiãs dos saberes tradicionais Huni Kuin, se juntaram na Casa de Cultura, Arte e Saberes Ancestrais, para ensinar as indígenas mais jovens a produzir artesanato. As mãos experientes na cestaria, tecelagem e artesanato- incluindo o cultivo do algodão e produção do fio com tingimento natural, guiam as novas gerações para a continuidade da produção, que retrata sua cultura
Inaugurada no último dia 4, a casa é ateliê e sede para as ações do Instituto Ainbu Daya. O objetivo é promover autonomia econômica, preservação da cultura e fortalecimento das mulheres por meio da arte.
A formação e valorização dos saberes tradicionais é resposta ao desestímulo da produção pelas novas gerações.Durante 6 meses as mulheres Huni Kuin receberão bolsas mensais no valor total de R$96 mil como incentivo para que continuem produzindo, ensinando para as indígenas mais jovens, e fortalecendo tradições por meio de seu trabalho artístico e cultura.
“O projeto está promovendo a união entre as mulheres, incentivando os encontros para as mais velhas possam ensinar para as mais jovens essa produção. Aqui na aldeias algumas mulheres não falam tão bem o português e muitas vezes não acreditam que a sua produção das artes seja importante, pois é difícil vender e ter retorno. Então esse projeto ajuda muito para que essa troca de saberes possa acontecer e para o reconhecimento do valor desse trabalho. Essa ajuda financeira também é essencial para que as mulheres de diferentes aldeias possam se encontrar e para que possam transportar as artes pois os custos são muito altos para transporte”, citou a vice-presidente do Instituto, Batani Huni Kuin, de 42 anos.
O projeto também contempla 6 meses de oficinas on-line para elas , com temas como a gestão e Empreendedorismo, Finanças Básicas, Cadastro de Artesã/MEI, Informática Básica, Mídias Sociais e Desenvolvimento Criativo.
Kenê Kuĩ é patrimônio vivo e linguagem ancestral
No ano em que o Kene Kuĩ – grafismo Huni Kuin – foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- Iphan, como Patrimônio Cultural do Brasil, realizar este projeto junto às aïbu keneya, mestras do desenho e guardiãs dos saberes tradicionais, representa um passo importante na preservação cultural Huni Kuin, etnia com maior população no Acre.
São as mulheres Huni Kuin que desenham o invisível através da tecelagem, cerâmica, cestaria e pintura e transmitem os saberes da existência de seu povo por meio de histórias, cantos e rituais. Seus grafismos – inspirados na relação com os yuxibu, espíritos da floresta – revelam a força de animais como a jiboia e a aranha. Mas o Kene não é apenas arte: é linguagem, ensinamento e cosmologia viva. Cada peça produzida é única e transcende a estética para afirmar a cultura e resistência do povo Huni Kuin.
Instituto Ainbu Daya: Mulheres Tecendo o Futuro
O Instituto Ainbu Daya é uma organização indígena que nasce da força ancestral e do sonho coletivo das mulheres dos três territórios Huni Kuin do Jordão: Alto Jordão, Baixo Jordão e Seringal Independência. Promove o protagonismo feminino dentro e fora das aldeias, com foco na transmissão de saberes, geração de renda e fortalecimento cultural.
O projeto é executado por meio do Programa Rouanet Norte, com o patrocínio do Banco da Amazônia, parceria do Banco do Brasil, Caixa e Correios, com realização do Ministério da Cultura e Governo Federal. Está em sintonia com os princípios da Agenda 2030 da ONU e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável -ODS, evidenciando o protagonismo indígena na preservação e regeneração da floresta amazônica.
Por Ac24horas