A vida do autônomo Laércio Santos, de 36 anos, mudou drasticamente desde que foi achado desacordado e com uma rachadura no crânio em abril deste ano do lado de fora do Bar e Casa Noturna Tardezinha, em Rio Branco. Ele vive acamado desde o mês de junho na Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre), se alimenta por sonda, usa fraldas descartáveis, não fala, nem anda e depende da ajuda dos familiares.
Um amigo encontrou Santos desacordado do lado de fora do bar e o levou para casa sem saber dos ferimentos. As investigações descobriram que o autônomo foi agredido por um PM que trabalhava como segurança no estabelecimento.
A vítima ficou quase um mês internada no pronto-socorro, passou por uma cirurgia para colocar placas no crânio e recebeu alta em maio. Após quase 30 dias em casa, Laércio Santos precisou voltar à unidade de saúde e retirar líquido da cabeça e usar um dreno.
Após o procedimento, o autônomo entrou em coma, foi transferido para a Fundhacre e quando acordou do coma já não conseguia fazer nada sozinho.
Ao g1, a mãe do autônomo, Francisca Nunes contou que o filho recebeu a primeira alta médica em maio. Ele ficou em casa quase um mês antes de precisar retirar o líquido da cabeça e nesse período conseguia comer, andar, tomar banho sozinho.
“Começou a criar líquido na cabeça dele, fomos para o PS, fez a tomografia, drenaram e meu filho ficou com o dreno. Entrou em coma e até hoje estamos lutando com ele no hospital. A gente fala e creio que ele entende, só olha”, explicou.
A previsão dos médicos é de que Láercio volte gradativamente a desenvolver as funções com fisioterapia, fonoaudiólogo e outros profissionais. Contudo, ele deve ficar com algumas sequelas.
“Os médicos dizem que é assim mesmo, o problema dele é grave, fizeram uma cirurgia para colocar umas placas no crânio. Temos uma consulta com o neuro esses dias e vamos perguntar tudo”, falou.
Com o filho acamado e sem renda, Francisca diz que precisa de ajuda e doações para comprar os remédios dele e também pagar as despesas pessoais e da família. Ela contou que, após o crime, a nora e o neto passaram a morar com ela.
“Fiquei viúva há um ano e meu filho que estava me ajudando, dava de comer a família dele e a minha. Aconteceu esse problema e não tenho renda nenhuma, nem para comprar as coisas dele. É tudo caro, a gente vai no mercado compra umas coisinhas, os remédios dele e já dá R$ 400 e não tenho de onde tirar esse dinheiro”, lamentou.
As doações podem ser feitas em dinheiro para a mãe comprar os remédios que Laércio precisa tomar. “A medicação que toma é toda comprada. Quando for para casa vai tomar um alimento especial, fralda aqui tem, mas quando for para casa uma equipe da prefeitura vai doar fralda. Podem mandar PIX que vou comprando as coisas que preciso todos os dias. Quando estiver em casa vamos comprar um alimento também que já vem pronto”, pediu.
Laércio Santos foi achado por um amigo ferido na calçada do bar. Achando que ele estava bêbado, o homem o levou para casa e o entregou para a esposa dele. Apenas no dia seguinte é que os familiares perceberam a gravidade da situação e procuraram um médico.
Na época, a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso, ouvir testemunhas e funcionários do estabelecimento. As investigações descobriram que o autônomo foi agredido por um policial militar de folga que estava trabalhando como segurança no bar.
Após ser identificado, o militar prestou esclarecimento e alegou legítima defesa. Contudo, o delegado Yvens Dixon, que concluiu o inquérito, confirmou que as investigações revelaram que não foi bem assim.
“Teve um empurra-empurra próxima à mesa dele. Mas, o segurança ao invés de separar a contenda já chegou agredindo a vítima. Depois ele caiu no chão desacordado e foi colocado inconsciente na calçada do Tardezinha”, contou o delegado.
Dixon acrescentou que o inquérito já foi remetido ao Poder Judiciário com um pedido de prisão do militar. Porém, a Justiça ainda não deferiu a medida.
“Ele não chegou a ser preso, pois o caso não era de prisão em flagrante. Passou a investigação em liberdade, concluiu.
Na época do crime, a administração do estabelecimento disse as informações repassadas eram de que Laércio Santos estaria embriagado e querendo arrumar confusão. A equipe tentou controlar a situação e continuou o trabalho na casa e o homem estaria ameaçando e empurrando os clientes.
A direção se colocou à disposição para os esclarecimentos na época. Para atualização, a reportagem não teve retorno do dono do estabelecimento.
Ao g1, a Polícia Militar informou que não foi feita nenhuma denúncia na Corregedoria da PM acerca deste fato. “Como o suspeito, que trata-se de policial militar, estava em sua folga, toda a investigação deste fato é atribuição da Polícia Civil, como foi realizada.”
Já sobre o fato de o policial estar prestando serviços em um restaurante privado, o que, por lei, não poderia, o comando respondeu que vai “aguardar o andamento do processo e uma notificação formal do judiciário para tomar as providências cabíveis”, destacou.
g1