Pesquisadores da Universidad Nacional de La Plata (UNLP) fizeram uma descoberta impressionante: há cerca de 21 mil anos, os primeiros povos humanos a ocupar a região da atual Argentina caçavam tatus gigantes com ferramentas de pedra. Esse achado, publicado na revista científica PLOS One, sugere que a presença humana na América do Sul é mais antiga do que se pensava anteriormente.
O fóssil encontrado, identificado como pertencente ao gênero Neosclerocalyptus, é de um gliptodonte, um parente próximo dos tatus modernos. Este gliptodonte media aproximadamente 1,8 metros de comprimento e pesava cerca de 300 kg, sendo parte da megafauna que habitava a região na época.
A datação por radiocarbono dos ossos e de outros materiais encontrados no mesmo sedimento indica que os fósseis têm entre 20.811 e 21.090 anos. As escavações ocorreram às margens do Rio Reconquista, perto da cidade de Merlo, na província de Buenos Aires, a cerca de 800 km de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Os paleontólogos identificaram marcas de corte nas partes da pélvis e da cauda do gliptodonte, todas feitas com ferramentas de pedra. Essas áreas coincidem com os locais de maior abundância de carne, indicando que os primeiros humanos caçavam e processavam esses animais. As análises descartaram a hipótese de que as marcas tenham sido feitas por roedores, confirmando a atividade humana.
As evidências encontradas não só ampliam nossa compreensão sobre a megafauna extinta, como também oferecem novas perspectivas sobre a história da ocupação humana na América do Sul. Segundo os autores do estudo, “análises quantitativas e qualitativas das marcas de corte, reconstrução de sequências de abate e avaliações dos possíveis agentes envolvidos nas modificações observadas na superfície óssea indicam atividades antrópicas”.
Essa descoberta é mais uma peça importante no quebra-cabeça da história “perdida” dos primeiros habitantes do continente sul-americano, mostrando como eles interagiam com o ambiente e a megafauna da época.