No início dos anos 2000, trabalhadores de uma fábrica de pipocas para micro-ondas adoeceram após inalarem diacetil, uma substância química com sabor amanteigado. Segundo a American Lung Association (Associação Americana do Pulmão), apesar do aroma agradável, o diacetil pode causar sérios danos à saúde quando inalado. Um desses danos é conhecido como “pulmão de pipoca”, nome popular para a bronquiolite obliterante, uma doença pulmonar grave e irreversível.
“O diacetil causa bronquiolite obliterante — mais comumente chamada de ‘pulmão de pipoca’ — uma cicatrização dos pequenos sacos de ar nos pulmões, resultando no espessamento e estreitamento das vias aéreas”, afirmou a instituição.
A pneumologista Yáskara Duarte Assis, do hospital Moriah, explica que a doença provoca cicatrização nos minúsculos sacos de ar dos pulmões, resultando no espessamento e estreitamento das vias aéreas, associada à exposição a vapores de aromatizantes artificiai
Adolescente chegou a ser colocado em suporte de vida após desenvolver doença semelhante ao “pulmão de pipoca”
Divulgação/Canadian Medical Association Journal
Sintomas e a relação com os vapes
Entre os sintomas estão a piora na respiração e tosse seca, como ressalta a pneumologista Gilda Elizabeth, do Hospital Brasília Águas Claras, da Rede Américas. “A pessoa sente dificuldade para respirar, uma piora progressiva da respiração, tosse seca e uma sensação real de falta de ar. Geralmente, não há melhora com o uso de broncodilatadores inalatórios”, disse.
Atualmente, especialistas investigam uma possível relação entre o uso de cigarros eletrônicos e o desenvolvimento da doença. Segundo Yáskara, alguns componentes do cigarro eletrônico podem desencadear esse tipo de lesão pulmonar, especialmente aromatizantes como o diacetil, já reconhecido como agente causal.
“Além do diacetil, outros compostos presentes nos líquidos de cigarro eletrônico, como 2,3-pentanodiona, vanilina e cinamaldeído, também apresentam potencial tóxico para o epitélio brônquico e podem contribuir para o desenvolvimento de lesões das vias aéreas”, afirma.
Casos preocupantes em jovens
Segundo a imprensa norte-americana, uma adolescente de 17 anos, que utilizava os vapes escondido dos pais, foi diagnosticada com a condição após passar mal durante um treino de líderes de torcida. Em entrevista à mídia dos EUA, a mãe da jovem afirmou que o prognóstico foi positivo porque a doença foi diagnosticada precocemente.
O caso da líder de torcida não é o único. Nas redes sociais, relatos semelhantes se multiplicam, e médicos ao redor do mundo têm alertado sobre a gravidade do problema. Muitos jovens também têm usado suas plataformas para compartilhar experiências e chamar atenção para os riscos associados ao uso do cigarro eletrônico.
Outro caso da doença em jovens foi divulgado pela imprensa do Canadá em 2019. Um menino, também de 17 anos, apresentou um quadro semelhante ao observado em pacientes com “pulmão de pipoca”, após utilizar cigarros eletrônicos comprados pela internet. Ele foi internado em um hospital após semanas com tosse persistente, febre e dificuldade para respirar. Além disso, jornais estrangeiros relataram que o adolescente precisou de suporte de vida temporariamente.
Yáskara ressalta que a doença não tem cura e é considerada grave, principalmente em pacientes mais jovens. “A bronquiolite obliterante é uma doença pulmonar grave, irreversível e progressiva, caracterizada por inflamação e cicatrização nos minúsculos sacos de ar dos pulmões, levando à obstrução irreversível das vias aéreas”.
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