Um registro raro do jacu-estalo-de-bico-vermelho (Neomorphus pucheranii), uma das aves mais misteriosas da Amazônia, chamou a atenção da comunidade científica e dos observadores de aves. A espécie, considerada o “santo graal” do birdwatching, foi avistada durante uma expedição no Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre.
O feito é resultado do trabalho do biólogo Luis Morais, que, durante o primeiro ano de seu doutorado, documentou a ave com imagens inéditas e detalhadas. Até então, a única evidência visual vinha de registros feitos por armadilhas fotográficas, sem permitir uma análise precisa de sua coloração.
O avistamento aconteceu em novembro do ano passado, durante uma expedição de cinco dias na região do rio Moa, com o apoio de comunidades locais e do ornitólogo Ricardo Plácido, especialista na avifauna do parque. A pesquisa faz parte dos esforços de Morais para propor uma nova classificação para o gênero Neomorphus, um grupo de aves sobre o qual ainda há muitas lacunas científicas.
“Observar essa espécie depende de técnica, persistência e um pouco de sorte”, afirma Morais. Segundo ele, os moradores da região já conheciam a ave e contribuíram para sua inclusão em um guia de aves do parque, um importante material para pesquisadores e turistas interessados no birdwatching.
O grande diferencial desse registro foi a qualidade das fotos obtidas, que mostram detalhes inéditos da coloração do jacu-estalo-de-bico-vermelho, especialmente o tom vibrante do bico e da região pós-ocular.
“As fotos geraram espanto na comunidade de ornitólogos e passarinheiros. Não se tinha noção do colorido dessa espécie baseado nos exemplares conservados em museus”, explica Morais.
Esse avanço reforça a importância do Parque Nacional da Serra do Divisor para a conservação da biodiversidade amazônica. Administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o parque é um dos últimos refúgios para espécies ameaçadas e pouco conhecidas.
O registro do jacu-estalo-de-bico-vermelho destaca o papel fundamental de áreas protegidas na pesquisa científica e na preservação da fauna. O ICMBio continua promovendo ações de monitoramento e proteção no parque, garantindo que espécies raras possam ser estudadas e protegidas.