
Com a chegada do verão amazônico, a população de Porto Walter já sente os reflexos de mais um período de estiagem. Em um município onde o acesso depende quase exclusivamente do transporte fluvial, a seca severa do Rio Juruá traz impactos diretos no abastecimento de mercadorias e no custo de vida. Segundo o empresário Danilo Souza, do setor de comércio local, o cenário tende a ser ainda mais desafiador neste ano.
“Tudo indica que esse verão vai ser mais forte que o do ano passado. Com a seca do rio, as embarcações diminuem de tamanho, pegam menos mercadoria e o frete sobe. A gente chega a pagar até R$ 1,30 por quilo. Isso reflete diretamente no bolso do consumidor”, explica Danilo.
No período chuvoso, grandes embarcações fazem o transporte entre Cruzeiro do Sul e Porto Walter. Já no verão, a redução do nível do rio impede a navegação de barcos maiores, dificultando o abastecimento e encarecendo o transporte.
A estrada que poderia mudar o cenário — mas está parada
Com cerca de 84 km, a estrada aberta entre Cruzeiro do Sul e Porto Walter em 2022 foi vista pela população como a esperança para resolver parte dessas dificuldades. Em poucos meses, ela reduziu drasticamente o tempo de viagem de dias de barco para cerca de quatro horas por via terrestre.
No entanto, o trecho foi embargado em 2023 por ordem judicial, por passar por área de Terra Indígena sem a devida consulta à Funai nem licenciamento ambiental. Em janeiro de 2025, uma nova decisão judicial determinou o arquivamento do processo e transferiu para o Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC) a responsabilidade pelo licenciamento, reacendendo esperanças na região.
Mesmo assim, o acesso segue bloqueado.
“A estrada ia facilitar tudo. A gente que tem carro, ia buscar mercadoria direto, sem pagar frete. E isso ia baixar o preço na prateleira. Sem estrada, tem mercadoria que a gente vende só pra cobrir o frete”, diz o empresário Danilo. “A estrada traria melhoria pra tudo: saúde, educação, transporte. Mas a lei não conhece a necessidade, e a lei ainda não liberou o que a gente precisa”.
Impacto nas comunidades mais humildes
Para a população mais carente, o impacto do isolamento e do aumento dos preços é ainda mais pesado. A dificuldade em transportar alimentos, medicamentos e até mesmo itens básicos como gás e material escolar atinge diretamente quem vive com menos recursos.
Enquanto aguardam a liberação definitiva da estrada, os moradores de Porto Walter seguem enfrentando verões cada vez mais secos, rios cada vez mais baixos e uma estrada que existe, mas que não pode ser usada.
Por Beatriz Santos, Redação Juruá24horas