O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, afirmou nesta quarta-feira, 6, que a volta de Donald Trump à Casa Branca trará “tensionamento” às relações internacionais e o Brasil precisa ter uma atitude pragmática para lidar com o governo americano liderado pelo republicano. As declarações foram dadas ao jornal O Globo.
“Só tem um caminho para nós com a eleição do Trump, que é ter um pragmatismo na relação comercial, entendendo que os Estados Unidos são um grande parceiro comercial, que têm contenciosos, mundo afora. O Brasil tem que saber separar as coisas: negócios à parte. Mas minha opinião é que a eleição do Trump deverá levar a um aumento do tensionamento da agenda do mundo, começando pela da mudança climática. Nós temos que enfrentar as mudanças climáticas, implementar o Acordo de Paris. E sabemos que o Trump tem um comportamento muito intensamente contrário àquilo que o Acordo de Paris traz. Então é um ponto de tensionamento”, disse Viana na cidade japonesa de Kioto, justamente onde foi assinado o primeiro acordo internacional que estabeleceu compromissos para reduzir a emissão dos gases de efeito estufa.
Viana passou os últimos dias em Tóquio em reuniões com adidos agrícolas e diplomatas de países da região com o objetivo de estabelecer uma estratégia comercial para o Brasil na Ásia. Nesta quinta ele receberá as chaves do pavilhão do Brasil na Expo Osaka 2025, que ocorrerá entre abril e outubro. No encontro que Viana teve com os adidos e diplomatas, na Tailândia e no Japão, foi citado com frequência o impacto de fatores geopolíticos no comércio mundial. Trump é um dos fatores de instabilidade. Para Viana, não dá para achar que haverá “paz e harmonia no mundo tão cedo”.
“Do ponto de vista histórico, nós sempre tivemos melhor resultado com os republicanos do que com os democratas nas relações comerciais e até de negócios. Tomara que esse histórico se repita. O posicionamento do Brasil e do presidente Lula tem sido sempre pragmático. Ele não vai usar a eleição nos EUA para marcar posição e causar tensionamento. O presidente tem deixado muito claro que quer lutar pela paz no mundo e que o Brasil tenha diálogo com todos”, afirmou Jorge Viana.
Além da agricultura, a indústria brasileira também pode se beneficiar da rivalidade entre as duas maiores economias do mundo, como ocorreu com o México, que está sediando mais fábricas chinesas que querem driblar tarifas altas na exportação para os EUA. “Para mim é definitivo que o Brasil deve sediar indústrias seja de que país for, dos Estados Unidos ou da China. Pela oferta de energia e materiais críticos que nós temos, o Brasil é um endereço para isso. E acho que independente do maior tensionamento que possa haver entre China e Estados Unidos, o Brasil não pode jogar fora essas oportunidades, seja ampliar sua produção industrial para atender os Estados Unidos e suprir essa substituição que querem fazer em relação à China, seja para ter empresas chinesas produzindo no Brasil para a América Latina. Aí cabe o pragmatismo”, disse Viana.
Por Ac24horas