Francisco Piyãko, líder da comunidade Ashaninka e coordenador da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá, participou do TEDxAmazônia neste fim de semana, em Manaus, onde compartilhou suas ideias baseadas em práticas ancestrais “para adiar o fim do mundo”. Natural do Acre, Piyãko apresentou uma visão que contraria a lógica de exploração econômica da natureza e reforça a importância de cuidar da Amazônia sem transformá-la em um negócio.
“É a natureza que diz como temos que viver. Entendemos que a terra, as águas e tudo que está neste planeta não pode ser vendido, pois não somos donos de nada disso”, destacou o líder indígena. Para ele, a preservação não deve estar ligada ao lucro, mas sim ao respeito e à coexistência harmônica com o meio ambiente.
Francisco alertou que as maiores ameaças à comunidade Ashaninka e a outras regiões amazônicas são as atividades de exploração, como madeireiras, mineração e obras de infraestrutura, além dos impactos das queimadas e da má qualidade do ar. Ele frisou que a floresta está chegando ao limite de sua capacidade de regeneração e que o modelo de exploração para fins comerciais ameaça todo o equilíbrio ambiental.
Visão crítica sobre o mercado de carbono
Questionado sobre o mercado de carbono, regulamentado recentemente durante a COP29 no Azerbaijão, Piyãko destacou que esse modelo pode ter dois impactos: a proteção da floresta ou o enriquecimento de poucos. Ele alertou que a lógica da compensação, em vez da mitigação das emissões de gases de efeito estufa, pode acelerar ainda mais a degradação ambiental.
“Se for para proteger a floresta é uma coisa, mas se for para enriquecer alguém, podemos acabar colocando tudo em risco”, afirmou. Ele também questionou a “nova onda de sustentabilidade”, que, segundo ele, pode desvirtuar os valores e os saberes da floresta ao tratá-los como produtos comerciais.
O cuidado coletivo como alternativa
Na visão de Francisco, é essencial repensar a lógica capitalista que valoriza apenas o lucro. Ele defendeu o cuidado coletivo como princípio para a convivência sustentável: “Não podemos pegar uma fruta na floresta, coletar e vender. Você tem que pegar, trazer e dar para o outro, então ele fará o mesmo por você. É menos sobre explorar, e mais sobre cuidar para ser cuidado”.
Com sua palestra, Francisco Piyãko trouxe um alerta urgente e um convite para refletirmos sobre a relação entre humanidade e natureza, enfatizando que o futuro da Amazônia depende do respeito aos saberes de seus povos e à essência da floresta viva.