Por mais de 10 anos, Mauro Andrade, conhecido popularmente como “Dançarino”, foi uma figura constante nas ruas do centro de Cruzeiro do Sul. Antigo dançarino de destaque nos grupos Triplo X e Matrix Dance, sua trajetória sofreu uma virada quando passou a enfrentar problemas de saúde mental e envolveu-se em situações que o levaram à vulnerabilidade social. Agora, sob os cuidados de seu irmão, Célio Andrade, em Rio Branco, Mauro começa a trilhar um caminho de recuperação.
Em uma entrevista exclusiva ao Juruá 24 Horas, Célio Andrade compartilhou os desafios e as esperanças nessa jornada. “Fiz o que pude e o que não pude para ajudá-lo”, revelou. “Olhando por outro ângulo, essa história é motivacional e pode servir de inspiração para outras famílias que enfrentam situações semelhantes.” Segundo Célio, Mauro adquiriu diversos traumas ao longo dos anos, que o levaram a um estado de saúde mental fragilizado. “Ele era um dos melhores dançarinos da cidade, mas as circunstâncias da vida o levaram por caminhos difíceis. Pegou até um tiro na cabeça.”
Em 2015, percebendo que o comportamento de Mauro estava mudando, com sintomas de pânico e mania de perseguição, Célio o levou ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Cruzeiro do Sul. “Eu o trouxe para casa, mas em uma noite ele tomou todos os remédios de uma vez e tentou tirar a própria vida. Foi um susto enorme”, relatou. A partir desse episódio, o estado mental de Mauro deteriorou-se ainda mais, e ele passou a viver nas ruas.
Clíssia Barreto, gerente do CAPS em Cruzeiro do Sul, relatou ao Juruá 24 Horas que a situação de Mauro tornou-se ainda mais crítica após um episódio de agressão. “Ele agrediu uma grávida na rua, e isso fez com que passasse a ser ameaçado por uma facção. Diante do risco, decidimos encaminhá-lo para Rio Branco, onde foi internado no Hospital de Urgência e Emergência (HUERB) em um leito de saúde mental. Seu irmão assumiu a responsabilidade por ele a partir desse ponto.”
Célio assumiu o papel de cuidador principal, enfrentando um grande desafio emocional e financeiro. “Ele foi diagnosticado com esquizofrenia e outros três transtornos psiquiátricos. Parei minha vida para cuidar dele. Conseguimos o Tratamento Fora de Domicílio (TFD) para transferi-lo para Rio Branco, e ele passou um mês internado”, contou. Após receber alta, Mauro foi levado para uma casa terapêutica, mas fugiu no dia seguinte, sendo encontrado três dias depois na BR-364, a caminho de Rio Branco.
“Depois disso, consegui um leito no Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac), onde ele ficou internado por 15 dias”, completou Célio. Atualmente, Mauro está em tratamento contínuo, tomando três tipos de medicamentos e recebendo cuidados.
Apesar dos altos e baixos, Célio acredita na recuperação do irmão e destaca o impacto positivo do apoio que tem recebido. “É uma luta diária, mas ver ele melhorando me dá forças para continuar. Espero que nossa história sirva de exemplo para outras famílias. Nunca devemos desistir de quem amamos”, concluiu.
A história de Mauro Andrade destaca não apenas os desafios enfrentados por pessoas em situação de rua e com transtornos mentais, mas também a importância do suporte familiar e institucional para o processo de recuperação. O caso também chama atenção para a necessidade de políticas públicas mais eficazes para o atendimento dessa população em Cruzeiro do Sul e em todo o estado do Acre.
Jurua24horas