Entre 2020 e 2024, 8.128 dos 10.137 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes registrados no Amazonas ocorreram dentro do próprio lar — o equivalente a 80,2% das notificações. Em grande parte dos casos, os agressores eram familiares ou pessoas próximas às vítimas.
Os dados são da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) e revelam a gravidade da violência sexual no ambiente familiar. O crime mais frequente é o estupro de vulnerável — quando o abuso ocorre contra menores de 14 anos — com 5.781 casos (57%). Em seguida aparecem assédio sexual (2.317 registros, 22,9%) e estupro (2.257, 22,3%).
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), apenas entre janeiro e abril deste ano, foram registrados 305 casos de estupro de vulnerável no estado — um aumento de 12,5% em relação ao mesmo período de 2024, quando houve 271 ocorrências. Apesar do crescimento estadual, Manaus registrou queda de 8,8%: foram 146 casos nos primeiros quatro meses deste ano, contra 160 no mesmo período do ano anterior.
No combate aos crimes, a Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) e o Departamento de Polícia do Interior (DPI) realizaram 109 prisões por estupro de vulnerável em 2025, sendo 62 somente em Manaus — destas, 34 em flagrante e 28 mediante mandados judiciais.
Embora a maioria dos casos ocorra em residências, outros locais também representam risco. Ao todo, 441 casos (4,4%) ocorreram em vias públicas e 265 (2,6%) dentro de escolas.
Os autores, em sua maioria, têm algum vínculo com a vítima. Amigos ou conhecidos foram apontados em 2.473 casos (24,4%), seguidos por namorados(as) (1.847 – 18,2%), padrastos (1.155 – 11,4%), pais (662 – 6,5%) e cônjuges (488 – 4,8%). Apenas 10,2% das notificações indicam o agressor como desconhecido.
O perfil predominante dos agressores é masculino (92,4%), com a maioria agindo sozinha (86,4%). A faixa etária mais comum entre os autores vai de 25 a 59 anos (36,6%), seguida por jovens de 15 a 19 anos (23,6%) e de 20 a 24 anos (18,2%).
Do lado das vítimas, 92,6% são meninas. A faixa etária mais afetada é entre 10 e 14 anos (5.644 casos, 55,7%). A maioria das vítimas se autodeclarou negra: 82,1% pardas e 2,2% pretas.
A FVS destaca que o número relativamente baixo de registros envolvendo meninos pode ser reflexo de subnotificação, motivada por tabus, estigmas e barreiras sociais, o que evidencia o impacto das desigualdades de gênero e das relações de poder na ocorrência e no enfrentamento da violência sexual infantil.
Por Ac24horas