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Peixe-boi-da-Amazônia: um jardineiro natural e a importância de sua preservação

Localizado no Amazonas, próximo ao encontro dos rios Solimões e Japurá, o Lago Amanã abriga uma das espécies mais emblemáticas da região: o peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis). Durante a estiagem, quando o nível dos rios baixa significativamente, esse mamífero encontra no lago refúgio e alimento. Mas uma descoberta recente revelou que o peixe-boi desempenha um papel ainda mais importante na biodiversidade amazônica.

A bióloga Michelle Guterres, em pesquisa realizada no Lago Amanã, identificou fezes do peixe-boi com sementes germinando. Isso confirmou uma hipótese antiga, mas ainda não comprovada: o peixe-boi atua como um dispersor de sementes, facilitando a migração de plantas entre habitats. Essa descoberta foi possível durante a seca extrema de 2023, quando o nível do lago atingiu apenas 20 cm, permitindo o acesso às praias formadas.

Michelle coletou 96 amostras de fezes, das quais 19 já apresentavam plantas germinando. No total, foram identificadas 2.033 sementes, sendo 556 viáveis. Essa capacidade de transportar sementes por longas distâncias, aliada à função de fertilização natural – as sementes são excretadas com nutrientes –, reforça o papel do peixe-boi como um “jardineiro natural” da Amazônia.

Os padrões migratórios do animal também contribuem para a biodiversidade: enquanto as várzeas dos rios são ricas em nutrientes e plantas, os igapós possuem solos pobres. O peixe-boi carrega sementes entre esses ambientes, garantindo uma maior diversidade de espécies e sua própria fonte de alimento no futuro.

Embora seja um dispersor essencial para o equilíbrio do ecossistema amazônico, o peixe-boi enfrenta graves ameaças, como a caça ilegal e os impactos das mudanças climáticas. Historicamente, a caça já dizimou milhares de indivíduos. Mesmo proibida desde 1967, a prática persiste em algumas regiões.

Além disso, as secas prolongadas – como as de 2023 e 2024 – tornam esses animais mais vulneráveis. Durante períodos de estiagem, os peixes-boi ficam concentrados em lagos, facilitando sua captura. A redução do nível da água também compromete sua alimentação, aumentando os riscos de ingerirem lama e areia, o que pode prejudicar seu sistema digestivo.

Para Michelle Guterres, a nova descoberta reforça a importância de sensibilizar as comunidades sobre o papel ecológico do peixe-boi. “Educar é essencial para mostrar como a preservação dessa espécie impacta diretamente a saúde dos rios e florestas, além de beneficiar as populações que dependem desses recursos”, afirma.

Proteger o peixe-boi significa não apenas garantir a sobrevivência de uma espécie icônica, mas também preservar o delicado equilíbrio dos ecossistemas amazônicos. Afinal, ao fertilizar águas e dispersar sementes, ele contribui para a biodiversidade, um legado vital para a Amazônia e para o mundo.

jurua24horas com informações UOL

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