População indígena que vive em cidades passa a de áreas rurais, aponta Censo de 2022

De acordo com os dados, 54% dos indígenas (914,7 mil) viviam em áreas urbanas em 2022, enquanto 46% (780 mil) viviam em áreas rurais.

O número de indígenas que vivem em áreas urbanas no Brasil superou a quantidade de indígenas em áreas rurais, segundo o Censo de 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quinta-feira (19).

De acordo com os dados, 54% dos indígenas (914,7 mil) viviam em áreas urbanas em 2022, enquanto 46% (780 mil) viviam em áreas rurais.

Esses números mostram uma inversão em relação a 2010, quando a maioria dos indígenas moravam em áreas rurais. Naquele ano, a maior parte dos indígenas – 64%, ou 572.083 pessoas – viviam em áreas rurais. Os demais 36% (324.834), em áreas urbanas.

O maior aumento da fatia de indígenas em áreas urbanas ocorreu dentro das terras indígenas: número passou de 5%, em 2010, para 11,2% em 2022. Fora delas, o percentual se manteve semelhante (79%). O IBGE não explicou o motivo.

O movimento está em linha com o que aconteceu no conjunto da população entre 2010 e 2022: de lá para cá, as áreas rurais do Brasil perderam 4 milhões de pessoas. As cidades ganharam 12 milhões.

Por que há mais indígenas em cidades do que no campo?

Segundo Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais do IBGE, a população indígena que vive em áreas urbanas ultrapassou a que vive na área rural por três fatores:

1. Mudanças na metodologia de pesquisa do Censo;

2. Uma maior autoafirmação dos indígenas como tais, especialmente nas cidades

3. A maior taxa de fecundidade dos indígenas e a redução da mortalidade contribuíram mais para o crescimento da população nas áreas urbanas do que nas rurais.

“É preciso destacar de início que não se trata exclusivamente de um processo migratório. Na última década, o IBGE implementou uma série de mudanças metodológicas, de aperfeiçoamentos, na forma como o Censo demográfico é realizado nas áreas indígenas”, afirma Damasceno.

Mesmo nas cidades, indígenas nas cidades têm pior saneamento…

Segundo os dados do Censo, mesmo nas áreas urbanas, as condições de saneamento dos indígenas são piores do que a média.

O nível de precariedade no acesso à água é 3,7 vezes superior (10,08%) ao da população urbana do país (2,72%). E, enquanto 83% têm acesso a esgotamento, entre os indígenas esse percentual cai para 59%. Os dados não consideram as terras indígenas.

“A desigualdade é muito impactante quando a gente olha e compara as taxas de acesso à infraestrutura de saneamento básico entre a população indígena e a população residente [o total da população brasileira]”, afirma Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE. “[Essa desigualdade] tem a ver também com os lugares que os indígenas estão ocupando nas cidades.”

…e menor alfabetização

Os dados do Censo mostram que a taxa de analfabetismo entre os indígenas segue acima da média nacional, mesmo nas áreas urbanas.

No total, 7% da população que vive nas cidades eram analfabeta em 2022, segundo o IBGE. Entre os indígenas, esse percentual é de 10,9%.

Outros dados sobre indígenas

O Brasil tem 8,5 mil localidades indígenas (locais em que há pelo menos 15 indígenas), a maioria delas (71,55%) dentro de terras indígenas.

A média de indígenas por domicílio é maior que a média nacional: são 3,64 pessoas por lar, ante 2,79 da média brasileira.

Os indígenas em áreas urbanas são mais velhos em comparação com aqueles que vivem em áreas rurais. A idade mediana é de 31 nas áreas urbanas e de 20 nas áreas rurais.

Nas áreas urbanas, há mais mulheres do que homens indígenas; nas áreas rurais, mais mulheres do que homens.

Por G1

Foto: Fábio Tito/G1

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