Dois indígenas da comunidade isolada Moxihatëtëma, na Terra Yanomami, foram mortos a tiros durante conflito com garimpeiros, divulgou a Hutukara Associação Yanomami (HAY) nessa terça-feira (2). A área do confronto fica na região do alto rio Apiaú, em Mucajaí, região Sul de Roraima.
As mortes teriam ocorrido há cerca de dois meses e meio, mas a informação foi repassada à Hutukara na segunda-feira (1º) por lideranças da Comunidade Apiaú.
Segundo o relato, os indígenas Moxihatëtëma foram mortos após se aproximarem de um garimpo chamado “Faixa Preta”, na intenção de expulsar os invasores do seu território. No entanto, entraram em confronto com os garimpeiros.
De acordo com a HAY, o garimpo “Faixa Preta” está localizado a cerca de quatro dias de barco, desde o posto de saúde Rio Apiaú. Conforme a Associação, essa região é vizinha ao território dos isolados Moxihatëtëma e, por esse motivo, “deve ser uma das zonas prioritárias para as ações de combate ao garimpo”.
Um documento com o relato, assinado pelo vice-presidente da HAY, Dário Kopenawa, foi encaminhado para a Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami da Fundação Nacional do Índio (Funai), para a Superintendência da Polícia Federal em Roraima (PF-RR), para a 1ª Brigada de Infantaria da Selva do Exército (1ª Bis) e para o Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR).
Ao g1, o MPF-RR informou que, por ser feriado “a equipe de plantão fica apenas por conta de atendimento de demandas urgentes”, não sendo possível “levantar as informações” a tempo.
A reportagem também entrou em contato com a Funai, PF-RR e 1º Bis, mas não teve resposta até a publicação da reportagem.
“Quero que a Funai, a Polícia Federal e o Ministério Público encaminhem a investigação do que aconteceu com os nossos parentes isolados, que foram assassinados. Duas lideranças foram assassinadas. Uma situação muito preocupante. Nós já divulgamos a nota da Hutukara, então queremos que autoridades nacionais, internacionais façam uma investigação bem forte”, disse Kopenawa.
O documento também relembrou que dois indígenas da mesma comunidade isolada foram mortos em 2019, por tiros de espingarda de garimpeiros. Na ocasião, a HAY afirma que informou os órgãos competentes, mas não obteve respostas sobre uma eventual investigação.
Com essas duas novas mortes e as de 2019, ainda conforme a HAY, a casa-coletiva dos Moxihatëtëma sofreu perda de 5% da população por morte em conflitos, visto que as últimas fotografias aéreas disponíveis da comunidade, indicam a existência de 17 seções familiares, ou seja, uma população de pelo menos 80 pessoas.
A associação solicitou aos órgãos responsáveis que investiguem o ocorrido, considerando “a grande vulnerabilidade epidemiológica das famílias em isolamento voluntário, e tomem medidas urgentes para proteger o grupo de novos confrontos e contatos forçados.