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A crescente onda de flagrantes de abusos contra crianças tem nos forçado a refletir sobre a gravidade de uma mazela social. O que antes era impensável, hoje se tornou uma realidade brutal, com histórias cada vez mais cruéis, doentias e desumanas.
O abuso infantil não é apenas um crime, mas um reflexo de uma sociedade que, em muitos aspectos, perdeu sua capacidade de proteger os mais vulneráveis, de acolher e respeitar o direito à infância.
É um paradoxo aterrador: enquanto avançamos em muitas áreas do conhecimento, como tecnologia e comunicação, regredimos em valores fundamentais. A impunidade e a falta de ação efetiva da justiça só amplificam o sofrimento das vítimas. O que estamos realmente fazendo como sociedade para combater esse mal? Será que estamos vivendo em um país onde a impunidade se tornou regra, e onde a moralidade e a honra se tornaram meras palavras vazias, incapazes de gerar mudanças concretas?
Diante dessa falha estrutural, a sociedade, em um grito desesperado por justiça, começa a tomar as rédeas do próprio destino. O que estamos presenciando, cada vez mais, é o povo fazendo justiça com as próprias mãos. Um fenômeno que reflete a total falta de confiança na efetividade do sistema judicial. Isso não é apenas um reflexo da raiva acumulada, mas também da sensação de abandono. O que nos leva a perguntar: até que ponto o sistema de justiça falhou a ponto de a população se sentir obrigada a agir de forma tão extrema? Será que chegamos a um ponto em que, para muitos, a justiça já não existe nas instituições, apenas nas ruas? O medo de que os criminosos não sejam punidos adequadamente alimenta ainda mais essa sensação de impunidade, levando à violência como resposta.
E se fosse com nossos filhos? E se fôssemos nós mesmos, na nossa infância, submetidos a tamanha crueldade? Como reagiríamos se a nossa vulnerabilidade fosse explorada dessa maneira desumana? Essa pergunta não é apenas um exercício de empatia, mas um grito coletivo para nos fazermos conscientes de que, quando uma criança é vítima, todos nós perdemos. Se a sociedade não proteger o futuro de seus filhos, estaremos condenados a viver em um ciclo de dor, desconfiança e desumanização.
É impossível não questionar a fragilidade de um sistema que permite que essas atrocidades continuem a acontecer, como se o sofrimento das crianças fosse apenas uma estatística. O que mais será necessário para que nos unamos em uma luta incansável contra essa violência? As campanhas, leis e instituições têm sido suficientes para deter a violência? Ou será que, na prática, ainda estamos distantes de uma resposta eficaz, enquanto os criminosos continuam agindo com total liberdade, desafiando o próprio sistema?
A verdade é que estamos diante de um espelho cruel. O abuso infantil é um reflexo de falhas profundas. Ele expõe nossa impotência, nosso fracasso em garantir que as crianças possam crescer em um ambiente seguro, saudável e digno. E talvez a questão mais difícil de responder seja: como podemos permitir que isso aconteça, repetidamente, em um país que se diz civilizado? Como justificar uma sociedade que permite que a infância, o bem mais precioso, seja arrancada de forma tão violenta e desumana?
Não podemos mais ignorar as cicatrizes profundas deixadas em tantas vidas. O que está em jogo não é apenas o presente das crianças, mas o futuro da nossa sociedade como um todo. A questão que devemos nos fazer é: até quando vamos tolerar que o abuso contra crianças seja uma realidade que segue se expandindo, sem que nossa indignação e ação efetiva consigam detê-lo? A resposta a essa pergunta depende da capacidade de cada um de nós em agir, cobrar e, principalmente, mudar a forma como olhamos para essa realidade, porque, enquanto não houver justiça real, não haverá dignidade para as crianças nem para a sociedade.
É urgente que nos tornemos a voz dos silenciados, daqueles que não têm como se defender. Cada vez que uma criança é silenciada, nós, como sociedade, também nos calamos. Devemos lutar para que sua dor não seja esquecida, para que cada uma dessas vidas tenha a chance de crescer com dignidade e proteção. Nossa responsabilidade é coletiva, e a verdadeira mudança começa quando decidimos, de uma vez por todas, ser a voz de quem não pode mais gritar por si mesmo.
Por Dayana Maia