Um dos biomas com a maior diversidade de animais do mundo, a Amazônia ainda precisa avançar em pesquisas para descobrir onde estão e qual é a importância de espécies desconhecidas para o equilíbrio do meio ambiente. Trata-se dos insetos que vivem bem longe do solo, na copa das árvores — algumas gigantescas, com até 50 a 80 metros de altura, caso das castanheiras e das samaúmas.
A conclusão é de um estudo de uma expedição de 34 cientistas que estudou a Amazônia e descobriu que há uma espécie de mundo perdido no topo das árvores. A equipe de pesquisadores brasileiros coletou mais de 14 mil insetos vivendo no dossel — como é chamada, no contexto botânico, a camada superior de uma floresta formada pelas copas das árvores, que atua como um habitat rico em biodiversidade.
E, como se sabe há muito tempo, a Amazônia é um dos biomas com maior diversidade de animais do mundo — e os insetos têm grande importância nisso. Só no Brasil, eles são 73% das espécies nacionais catalogadas. Ainda assim, alguns dos insetos da Floresta Amazônica são pouco conhecidos pela ciência, principalmente aqueles que vivem no topo das árvores.
Apesar da grande diversidade de insetos na Amazônia, eles ainda são pouco conhecidos pela ciência. Os que vivem no dossel, a copa das árvores, ficam ainda mais difíceis de estudar, diz o biólogo Dalton de Sousa Amorim, pesquisador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador de um dos projetos. Isso acontece pela falta de acesso a esses animais e pela inexistência de técnicas de coleta ideais, revela o Jornal da USP.
É aí que entram os projetos BioInsecta, coordenado por Amorim, e BioDossel, cujas ideias são monitorar espécies de insetos em uma área de 10 mil hectares da floresta, ajudando na conservação. Para isso, a equipe de 34 pesquisadores passou seis dias, durante o final de novembro de 2024, na Estação Experimental de Silvicultura Tropical, também conhecida como Reserva ZF2 do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a cerca de 80 km de Manaus (AM). A expedição foi formada exclusivamente por entomólogos (especialistas em insetos).
Além da coleta no topo das árvores, os pesquisadores realizaram a amostragem detalhada de insetos em outros habitats específicos da Amazônia, como corpos d’água e troncos. Os pesquisadores combinaram uma diversidade de mais de 30 técnicas, que resultaram na coleta de mais de 1.400 amostras de insetos.
Algumas delas coletaram exemplares um a um. Já outras permitiam a coleta de milhares de exemplares ao mesmo tempo. Cada uma era pensada considerando o micro-habitat e as ordens dos insetos (como besouros, abelhas e formigas).
Uma delas foi a armadilha em cascata, a principal técnica utilizada em ambos os projetos. Ela consiste em um sistema de cinco armadilhas integradas em cascata, içadas até a copa das árvores e que ficam montadas durante 14 meses.
Outra, utilizada por Simeão de Souza Moraes, pesquisador de pós-doutorado da Fapesp na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), usou armadilhas de luz em lençóis para atrair especificamente mariposas no dossel.
O trabalho aconteceu nos períodos diurno e noturno, com revezamento entre equipes. A intenção era encontrar insetos com diferentes hábitos.
Depois da coleta, os exemplares foram levados até um alojamento improvisado em campo para análise, registro fotográfico e conservação para análise posterior do DNA.
De acordo com José Albertino Rafael, pesquisador do Inpa e coordenador do projeto BioDossel, também ao Jornal da USP, a amostragem das espécies coletadas deve demorar um pouco, mas é previsto o estudo do DNA de cerca de 500 mil exemplares. Estima-se que metade deles ainda seja desconhecida.
Revelar a dimensão do número de espécies que vivem na Amazônia, desde o solo até o topo das árvores, é considerado pelos coordenadores dos projetos um dos grandes desafios das florestas tropicais. Para Rafael, além da importância em revelar a biodiversidade da Floresta Amazônica, a expedição vai criar um banco de dados que será muito útil no futuro, quando precisarmos analisar o impacto das mudanças climáticas na natureza. Esse será um banco de dados muito útil para daqui a seis, dez anos, fazermos novas coletas e vermos qual o impacto do aumento da temperatura, da diminuição de chuvas e das queimadas na população dos insetos.
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