Os Mashco Piro, reconhecidos como o maior grupo indígena em isolamento voluntário do mundo, estão enfrentando uma crescente série de ameaças em suas terras, situadas na floresta que separa o Peru do Brasil. A pressão de madeireiros, narcotraficantes e os impactos da crise climática têm levado esses indígenas a se deslocarem com mais frequência para o lado brasileiro da fronteira, buscando segurança e recursos.
Recentes relatos obtidos pelo GLOBO indicam que a vulnerabilidade dos Mashco Piro é crítica, tanto no Peru quanto no Brasil, especialmente na Terra Indígena Mamoadate, no Acre. Fenômenos como secas prolongadas, incêndios florestais e mudanças no regime dos rios estão reduzindo a disponibilidade de alimentos, isolando comunidades e desestabilizando os ciclos migratórios tradicionais. A ausência de políticas binacionais eficazes tem gerado preocupações sobre a segurança dos Mashco Piro e sua continuidade como sociedade autônoma.
Beatriz Huertas, uma antropóloga que investigou a região no final dos anos 1990, documentou avistamentos dos Mashco Piro por moradores de Monte Salvado, uma aldeia indígena Yine. Segundo relatos, durante os verões, os “aislados” apareciam em busca de alimentos. Huertas recomendou a proteção de 2 milhões de hectares para os Mashco Piro, um povo de grande mobilidade. Desde então, o Peru implementou a proteção de 800 mil hectares, mas, nos dois anos seguintes, foram concedidas 38 licenças de exploração madeireira que abarcam 694.584 hectares, incluindo áreas utilizadas pelos Mashco Piro.
Em 2006, o Peru aprovou uma lei que visa a proteção de povos isolados e de contato recente, estabelecendo seis reservas indígenas com um status legal mais forte. Contudo, ainda existem mais de 176 mil hectares sob concessões, o que perpetua a situação de conflito.
Uma investigação do Ojo Público, baseada em dados do Ministério da Cultura, identificou 81 ocorrências envolvendo os Mashco Piro nas proximidades da reserva entre 2016 e 2024, com quatro casos de violência. Isrrail Aquise, coordenador da defesa dos povos isolados da Fenamad, destaca que a violência alterou o comportamento das comunidades. “As mulheres não estão aparecendo, e os anciãos e crianças que antes vinham também não estão. Só vemos homens e meninos com força física nas praias. Estão protegendo os membros mais vulneráveis, provavelmente por causa dos confrontos com madeireiros, sejam legais ou ilegais”, afirma.
Lucas Manchineri, presidente de uma associação indígena local, menciona que a crise climática, caracterizada por chuvas e secas extremas, também afeta os ciclos sazonais. “Igarapés secam antes do tempo, forçando os Mashco Piro a descer os rios, aproximando-se das aldeias da TI Mamoadate. Onde não há proteção da terra, há garimpeiros, narcotraficantes, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais – e essas pessoas estão empurrando os Mashco Piro para mais perto da nossa comunidade”, diz ele. “Estamos lutando para proteger nossos parentes isolados, mas para isso precisamos proteger nosso território.”
Para prevenir conflitos, o Ministério da Cultura do Peru mantém 19 postos de controle em todo o país, abrangendo oito reservas indígenas e territoriais. Romel Ponciano, um homem Yine de Monte Salvado, ressalta a dificuldade enfrentada pelos postos devido ao corte de orçamento: “Cada posto precisa de seis funcionários porque isso aqui não é um zoológico; é uma reserva territorial com povos isolados. Muitas vezes temos apenas dois em serviço – ou nenhum”.
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Por Contilnet