Pesquisadores, com a ajuda de anciãos indígenas, desvendaram o significado de antigas pinturas rupestres encontradas na Serranía de la Lindosa, na Amazônia colombiana. As obras de arte, que se estendem por 19 km de afloramento de arenito, retratam uma rica tapeçaria de humanos, animais e seres mitológicos, pintados em ocre vermelho. Estima-se que as imagens mais antigas datem de mais de 11 mil anos.
Colaboração Indígena Decifra Mensagens Ancestrais
Desde 2018, uma equipe de pesquisadores tem se dedicado a compreender o significado dessas pinturas, um trabalho que foi significativamente enriquecido pela colaboração de anciãos das comunidades Tukano, Desana, Matapí, Nukak e Jiw. A sabedoria dos povos indígenas foi crucial para desvendar a mensagem espiritual por trás da arte rupestre.
Segundo os estudiosos, as pinturas não são simples reflexos do mundo real, mas codificam informações vitais sobre a construção e a perpetuação dos mundos ritualizados e socioculturais das comunidades animistas e perspectivistas.
Transformação e Espiritualidade na Arte Rupestre
Os pesquisadores descobriram que as pinturas fazem alusão a uma dimensão espiritual oculta, acessível apenas pelos xamãs, que se transformam em animais para navegar por ela. A cosmologia indígena, baseada no conceito de Novo Animismo, sugere que cada ser vivo possui uma forma humana oculta sob sua “capa externa”.
Os xamãs, ao se despojarem dessa “roupa” superficial através de rituais, podem interagir com a essência de outros seres, eliminando as barreiras entre as espécies. Isso é evidenciado por numerosas cenas de transformação teriantrópica na arte rupestre, onde humanos adquirem características de animais como cobras, onças e pássaros.
Incorporação das Opiniões Indígenas na Pesquisa
Jamie Hampson, professor e autor do estudo, destacou a importância da colaboração com os anciãos indígenas. Segundo ele, essa é a primeira vez que as opiniões dos anciãos sobre a arte rupestre de seus ancestrais são totalmente incorporadas à pesquisa nesta região da Amazônia. Essa abordagem permite uma compreensão mais profunda da arte como um elemento sagrado e ritualístico, criado dentro de uma estrutura de cosmologia animista, em lugares sagrados da paisagem.
A pesquisa, que se estendeu até 2024, ressalta a necessidade de levar a sério os sistemas de crenças e mitos indígenas, contribuindo para um entendimento mais respeitoso e aprofundado da rica herança cultural da região amazônica.