A ministra do Meio Ambiente Marina Silva volta ao Congresso Nacional nesta terça-feira (8/7), às 9h, para participar de audiência pública na Comissão de Meio Ambiente do Senado. O encontro, que tem como pauta oficial as metas e prioridades da pasta para 2025, acontece sob a uma série de episódios recentes em que a ministra foi alvo de ataques verbais e hostilidade explícita por parte de parlamentares.
Nas últimas semanas, Marina enfrentou duras investidas tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados. Em ambas as ocasiões, o que deveria ser uma prestação de contas institucional se transformou em embate pessoal. A ministra foi interrompida diversas vezes, teve seu microfone cortado, foi acusada de “adestramento de esquerda” e comparada a grupos extremistas como Hamas, Hezbollah e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Dois dos senadores que protagonizaram as ofensas – Marcos Rogério (PL-RO) e Plínio Valério (PSDB-AM) – são membros da Comissão que a receberá novamente nesta terça. Marcos, que preside a comissão, foi o autor da frase “se ponha no seu lugar”, dita à ministra durante audiência anterior na Comissão de Infraestrutura. Ele também mandou cortar o microfone de Marina diversas vezes, impedindo que ela concluísse sua fala. Já Plínio Valério, que meses antes afirmara que gostaria de “enforcar” a ministra — declaração que gerou forte repúdio na época — disse, em tom de desdém, que a respeitava como mulher, mas não como ministra.
A tensão continuou na semana seguinte, quando Marina compareceu à Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento da Câmara dos Deputados. Lá, os ataques vieram de nomes da base bolsonarista: Evair de Melo (PP-ES), Capitão Alberto Neto (PL-AM) e Zé Trovão (PL-SC). Evair associou a postura ambientalista da ministra a estratégias usadas por guerrilhas latino-americanas e grupos terroristas do Oriente Médio. Capitão Alberto Neto a acusou de jamais ter produzido algo na vida e sugeriu sua saída do governo. Já Zé Trovão disse que ela havia sido “jogada na cova dos leões” por um governo que, segundo ele, “não a valoriza”.
Mesmo diante das agressões, Marina manteve a postura. “É melhor receber injustiças do que praticar injustiças”, afirmou após a sessão, acrescentando que fez uma longa oração antes de ir à Câmara. “Pedi a Deus que me desse muita calma e paciência, porque eu sabia que depois do que aconteceu, aqueles que gostam de abrir a porteira para o negacionismo, a destruição do meio ambiente, o machismo, o racismo, iriam agir”, disse, em tom sereno.
Durante suas falas, a ministra buscou centrar o debate na agenda ambiental. Rebateu o negacionismo climático, defendeu o controle do desmatamento como responsabilidade compartilhada com o Ministério da Agricultura e apresentou dados sobre as causas dos incêndios florestais registrados em 2024 — que, segundo ela, combinam fatores climáticos extremos com ações criminosas.
A nova audiência desta terça será acompanhada de perto por parlamentares, ambientalistas e integrantes do governo. Além de apresentar o planejamento do ministério para o próximo ano, Marina deve abordar os preparativos para a COP30, que será realizada em Belém (PA), em 2025 — evento considerado estratégico para a diplomacia ambiental do Brasil no cenário global.
Por: Correio Braziliense