Mesmo após uma forte chuva de 50mm, o cenário no refúgio ecológico Caiman, localizado no município de Miranda, em Mato Grosso do Sul, ainda é de devastação. Cinzas cobrem os campos e troncos em brasa continuam queimando, demonstrando a intensidade dos incêndios que assolam a região do Pantanal. A situação preocupa especialistas e autoridades ambientais, que alertam para os danos imediatos e as consequências a longo prazo para a fauna e flora locais.
Na área do refúgio Caiman, onde o fogo foi recentemente contido, o impacto do incêndio foi significativo. Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul, descreve a cena ao encontrar um tronco em brasa no meio do caminho: “Aqui temos o exemplo de como as árvores grandes demoram a apagar. Choveu bastante, mas este tronco ainda solta chamas. Quando a chuva parar, isso pode reascender e continuar queimando.” O incêndio, que teve seu pico no início de agosto, foi controlado com a chegada de uma frente fria, mas os riscos permanecem.
Os incêndios são parte da dinâmica natural do Pantanal, mas, segundo Neiva Guedes, a intensidade deste ano é sem precedentes: “Já enfrentamos vários incêndios ao longo dos anos, mas este foi muito forte e em uma escala muito grande. Em 48 horas, as chamas varreram tudo.”
O refúgio ecológico Caiman, que há mais de três décadas é parceiro do Instituto Arara Azul, é um importante centro de preservação da fauna pantaneira, abrigando espécies como a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus). O incêndio destruiu parte das áreas de reprodução dessas aves, incluindo ninhos artificiais que abrigavam ovos. “Perdemos dois ovos nos ninhos aqui na Caiman, mas outros 19 ainda estão sendo incubados. Agora, precisamos ver se os filhotes vão sobreviver, pois teve muita fumaça”, explica Neiva.
A fumaça dos incêndios florestais pode afetar seriamente os embriões, como alerta Maria Eduarda Monteiro, médica veterinária do Instituto Arara Azul: “Os gases tóxicos penetram pela casca do ovo e podem chegar ao embrião, causando lesões e diminuindo as chances de sobrevivência.”
Além dos ninhos, os bosques de palmeiras acuri, principal alimento das araras-azuis, também foram devastados pelo fogo. “O impacto do incêndio vai muito além da destruição imediata. Ele afeta a reprodução das araras e a disponibilidade de alimento nos próximos anos”, ressalta Neiva.
Diante da gravidade da situação, uma força-tarefa foi organizada para salvar os animais sobreviventes. Grupos de funcionários da Caiman e pesquisadores dos projetos Onçafari e Arara Azul percorrem diariamente os campos em busca de animais feridos. “Estamos montando um hospital veterinário na Caiman para atender os animais que precisam de cuidados emergenciais”, explica Flávia Miranda, médica veterinária e presidente do Instituto Tamanduá.
O proprietário da Fazenda Caiman, Roberto Klabin, reforça a importância de medidas preventivas e do manejo integrado do fogo: “Precisamos criar sistemas de alerta antecipado e aumentar a resiliência do Pantanal com estruturas de armazenamento de água e abrigos para os animais.”
Apesar dos desafios, Klabin acredita na recuperação do Pantanal e na importância de continuar apoiando a pesquisa científica e a preservação do bioma: “Temos que mostrar ao mundo que o Pantanal tem uma biodiversidade incrível que precisamos conservar.”
As imagens do Pantanal coberto de cinzas são desoladoras, mas a determinação de proteger e restaurar esse importante bioma permanece firme.
Juruá24horas com infomação do portal “O Eco”